5 perguntas para Donata Taddia, oficial de Políticas de Ética e Compliance do COI
Palestrante do 2º Fórum Esporte Seguro, que debateu prevenção à manipulação de resultados, acredita que atletas devem receber atenção para não entrarem em esquemas

Donata Taddia é oficial de Políticas de Ética da Unidade do Movimento Olímpico para a Prevenção da Manipulação de Competições (OM Unit PMC), criada pelo COI em 2017, por recomendação do Fórum Internacional para a Integridade no Esporte (IFSI). Entre outros afazeres, lida com a integração entre diferentes do Movimento Olímpico na salvaguarda da integridade das suas competições ao longo do ciclo olímpico e na aplicação do Código do Movimento Olímpico sobre a Prevenção da Manipulação de Competições.
A Unidade OM PMC apoia as Federações Esportivas Internacionais (IFs), os Comitês Olímpicos Nacionais (NOCs), os organizadores de eventos multiesportivos e outras organizações esportivas em seus esforços para proteger a integridade do esporte. Ela também firmou parcerias com outras partes interessadas e apoia várias iniciativas de organizações intergovernamentais, como INTERPOL e UNODC.
Donata esteve no Rio de Janeiro como uma das palestrantes do 2º Fórum Esporte Seguro, que debateu questões relativas à manipulação de resultados em competições esportivas. Em visita à sede do Comitê Olímpico do Brasil, aproveitou para trocar experiências com funcionários de diferentes áreas do COB e estreitar relações entre as duas organizações e contou um pouco mais do trabalho na OM Unit PMC. A Unidade estabeleceu regras modelo, uma campanha robusta de conscientização, um sistema de inteligência para todo o Movimento Olímpico e tem como objetivo:
- Salvaguardar a integridade das competições olímpicas.
- Apoiar as partes interessadas do Movimento Olímpico na salvaguarda da integridade das suas competições ao longo do ciclo olímpico.
- Garantir o cumprimento do Código do Movimento Olímpico sobre a Prevenção da Manipulação de Competições pelas partes interessadas do Movimento Olímpico.
- Em geral, apoiar as partes interessadas do Movimento Olímpico no desenvolvimento de atividades contra a manipulação de competições.
1 – Qual é a importância de eventos como este Fórum Esporte Seguro, que se dedicou integralmente ao tema de manipulação esportiva?
Esse fórum foi muito importante, é algo indispensável para criar pontes no contexto local, nacional, então damos uns parabéns ao Comitê Olímpico do Brasil pela iniciativa. Porque você junta áreas diferentes num debate. A luta contra a manipulação das competições não é somente algo do esporte. Há outras partes interessadas que têm que participar desse trabalho. Então é importante ter esse fórum de discussão para trocar experiências com autoridades, com operadores de apostas, para achar um caminho juntos, porque a prevenção da manipulação das competições é um trabalho de equipe.
2 – Qual deve ser o trabalho de organizações como o Comitê Olímpico Internacional e os comitês dos países neste assunto?
O trabalho sobre a prevenção da manipulação nas competições é um trabalho de equipe, porque cada uma das partes interessadas tem uma responsabilidade diferente, onde que cabe a experiência específica que cada um de nós tem. Os Comitê Olímpicos Nacionais têm a responsabilidade do esporte a nível nacional e por consequência garantir regras em conformidade com o Código OM PMC em vigor, sensibilizar os próprios constituintes e garantir a existência de um mecanismo de comunicação disponível e pronto a apoiar a gestão de casos. Outras partes interessadas têm outras responsabilidades. Então é importante entender as responsabilidades de cada um e se juntar, juntar as forças para poder achar soluções conjuntas. A nível nacional isso pode acontecer com a criação de uma plataforma nacional que reúne organizações esportivas, autoridades públicas e entidades de apostas. A nível internacional, no COI, a nossa unidade sobre a prevenção da manipulação nas competições tem desenvolvido cooperações contra outras organizações intergovernamentais, como a Interpol e a UNODC, porque sabemos que temos que trabalhar em equipe também no nível internacional. Entendemos que eles têm a experiência deles e nós temos nossa expertise. Então é juntar as duas coisas para poder achar soluções que tenham impacto, que sejam positivas e que possam ajudar no futuro.
3 – Como o COI aborda esta questão internamente?
A manipulação das competições pode acontecer por razões diferentes. Pode ser motivos esportivos ou pode ser por motivos ligados ao mercado de apostas. Para definir estratégias de prevenção, nossa unidade tem uma estrutura que se baseia em três pilares. Um é apoiar nossos stakeholders na adoção do OM Code PMC, que é a base regulatória. O segundo pilar é desenvolver atividades de sensibilização, educação, e apoiar nossos stakeholders para aplicarem o código no país deles, na modalidade esportiva deles. E a terceira é a área de monitoramento, inteligência e investigações, onde tratamos toda a questão de formação de denúncias, de inteligência, para poder detectar suspeitos. Para facilitar eficazmente os esforços conjuntos de todas as partes interessadas envolvidas na luta contra a manipulação da concorrência, o COI criou o Integrity Betting Intelligence System (IBIS) em janeiro de 2014 para facilitar a troca de informações e inteligência através de um mecanismo centralizado.
Para implementar esta estratégia em três pilares, a Unidade OM PMC desenvolveu uma rede de Pontos de Contacto Únicos (SPOC), o ponto focal sobre o tema de prevenção da manipulação das competições em cada comitê nacional e federação internacional.
4 – Como é possível conscientizar atletas dos riscos, prejuízos e consequências da manipulação?
Nosso trabalho é para proteger a integridade no esporte, mas isso quer dizer o que? Quer dizer que a gente está aqui para os atletas, para ajudar eles, para proteger. Isso é sobre integridade no esporte. Então nosso trabalho tem que ter esse foco, diálogo, contato com o atleta, com quem está fazendo o esporte no campo. Por isso, a OM Unit PMC desenvolveu uma caixa de ferramentas para a sensibilização e também um programa de atletas embaixadores: não tem nada melhor do que atletas veiculando informações e educação para outros atletas. E tem que pensar a prevenção da manipulação das competições como algo que pode ser maior. Por exemplo, uma das vulnerabilidades que a gente viu é com um atleta que está no final da carreira. Não o deixar vulnerável às perguntas como “o que eu vou fazer depois da minha carreira do esporte?” Por exemplo, o programa do Comitê Olímpico do Brasil com proposta de carreira (PCA, Programa de Carreira do Atleta, que auxilia esportistas na transição entre a aposentadoria das competições e novas ocupações no futuro). Dá outros recursos, outras ferramentas para os atletas terem alternativas e não caírem em manipulações da competição. Também no início da carreira que o jovem ainda não conhece muito bem. Existem, claro, as regras, mas também alternativas, que são os programas que podem ser desenvolvidos.
5 – Alguma mensagem em especial que deveria ser deixada sobre a prevenção à manipulação de resultados?
Se eu pudesse deixar uma mensagem aqui para vocês no Brasil, eu falaria diálogo, diálogo, diálogo. É muito importante conversar e falar sobre essas coisas. É importante ter uma cooperação, um diálogo em nível institucional, como foi o fórum, mas também no âmbito do esporte. Os atletas devem poder conversar com o pessoal lá no Comitê Olímpico do Brasil. E o pessoal no Comitê Olímpico do Brasil tem que ir lá conversar com os atletas para entender quais são as dificuldades, mas também os pontos fortes que podem ser usados nesse trabalho de prevenção. Então diálogo, diálogo, diálogo. E prevenção e cooperação.












