No grito e com ajuda de 'paizão' do time, boxe feminino ganha 3 ouros e 1 prata
Meta era subir duas vezes ao lugar mais alto do pódio em Assunção; finais masculinas serão na quinta, dia 13

Tatiana Chagas já havia perdido o primeiro round da final da categoria até 54 kg quando uma voz rouca vinda das arquibancadas começou a preencher o ambiente: “Mais volume, mais golpes! Vai, Tati”.
Os gritos ouvidos pela pugilista dentro do ringue guiaram seus braços, e os golpes começaram a sair, um atrás do outro, vencendo o cansaço e o nervosismo. Tatiana virou a luta contra Johana Landaeta (Venezuela) e abriu o caminho para a campanha brilhante do boxe feminino do Brasil nos Jogos Sul-americanos Assunção 2022.
A seleção chegou ao Paraguai com a meta de conquistar dois ouros. Sai com três medalhas douradas na bagagem e uma prata e quatro vagas nos Jogos Pan-americanos 2023.
Os gritos de incentivo e orientação eram de Adaílton Gonçalves, um dos treinadores da seleção brasileira.
“Quando eu ouvi, os gritos dele foram para o meu coração e tirei forças para ganhar. Quando empatei a luta, vi que ela estava cansada e soube que ali era minha vez”, disse Tatiana, que explicou sobre a relação carinhosa com Adaílton.
“Ele fica em cima de todo mundo, sempre perguntando, impulsionando. É um paizão. E temos uma relação especial, ele me dá muita dica, se preocupa comigo, me ajuda a evoluir. Estou sempre procurando as orientações dele”, afirmou.
Adaílton contou que ele fez toda a preparação para a luta contra a venezuelana junto com Tatiana. Treinaram pensando na rival, analisaram vídeos, mas por mudanças de última hora, não foi ao córner da pupila na final em Assunção, nesta quarta-feira, dia 12.
Ele deveria ter ficado ajudando as outras atletas a se aquecer, mas quando soube que Tatiana havia perdido o primeiro round, não se aguentou e foi para um cantinho da arquibancada.
“Eu tinha dito pra ela que tudo daria certo, que eu estaria lá com ela, mesmo não estando fisicamente, pra ela confiar em tudo que a gente tinha treinado, mas não me aguentei e fui”, afirmou.
Adaílton conta que é bastante rigoroso dentro do ringue, mas, fora dele, tenta ser uma figura paterna para os pugilistas que moram em São Paulo e treinam juntos na seleção.
“Eu abraço esses garotos. Eles estão longe da família, e a gente sabe como isso é difícil. Dou conselho, orientação, tento ajudar no que posso e me orgulho muito deles”, disse.
UMA EMPURRA A OUTRA
Enquanto Tatiana vencia, Jucielen Romeo se concentrava para a luta contra a Yeni Castañeda, da Colômbia.
Os ouvidos captavam gritos, mas ela continuava focada na luta. Ficou sabendo do resultado da companheira de equipe quando já estava esperando para entrar, vibrou por dentro e ganhou um gás a mais para dominar sua luta e garantir o ouro na categoria até 57 kg.
“Muitas vezes eu estava batendo na trave nas competições e isso estava me incomodando bastante. Fiquei muito feliz com esse resultado. Tenho que agradecer ao Time Brasil porque a estrutura que ele nos proporciona faz toda a diferença para nos atletas”, afirmou.
Na última luta de brasileiras na noite, Barbara Santos teve mais dificuldades contra a argentina Lucia Perez. Mas, na raça, conseguiu segurar resultado e coroar a campanha brasileira com outro ouro.
Na primeira luta do dia, Carol Naka foi superada pela colombiana Ingrit Valencia e terminou em segundo lugar.
“A meta era conseguir dois ouros no feminino. E superamos, com três ouros e uma prata”, disse o técnico Mateus.
“A Jucielen dominou a luta. A Carol lutou bem, mas pegou uma medalhista olímpica e mundial com muito mais recursos. A Tati e Barbara acabaram ganhando na insistência. Faltou calma para executar a parte tática, mas entendo por ser a primeira Missão com o Time Brasil. O nervosismo e a tensão travam um pouco. Elas ganharam no grito e no coração. Mas o importante é que ganharam. O resultado foi ótimo, estamos felizes e vamos buscar mais com o masculino.”
Os brasileiros voltam ao ringue nesta quinta, dia 13, para as finais dos homens.