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Jogos da Juventude

Da fama na periferia de Porto Alegre ao topo do pódio: Derick Goulart brilha nos Jogos da Juventude

Sob o comando do ex-coordenador da Seleção Brasileira de ginástica artística Leonardo Finco, gaúcho nascido em zona de risco da capital gaúcha conquista dois ouros e vai a todas as finais por aparelho

Por Comitê Olímpico do Brasil

7 de set, 2023 às 15:39 | 4 min de leitura

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Lá no bairro de Passo das Pedras, Zona Norte de Porto Alegre, o gaúcho Derick Goulart é conhecido como "o cara do mortal". Nesta quinta-feira (7), ele ampliou essa fama e deu seu cartão de visitas ao Brasil com a conquista de dois ouros na ginástica artística nos Jogos da Juventude Ribeirão Preto 2023, no individual geral (89.800) e por equipes (176.150), além da classificação para todas as seis finais por aparelhos.

A luta do jovem de 17 anos é motivo de orgulho para Leonardo Finco, ex-coordenador técnico da Seleção Brasileira masculina. O profissional acompanha o desenvolvimento do garoto no Grêmio Náutico União desde que ele tinha oito anos. Conhece as dificuldades e ajuda a montar uma engrenagem favorável ao sucesso de Derick. 

Isso explica a comemoração pelos dois ouros e a classificação em primeiro lugar nas barras paralelas, barra fixa, argolas e cavalo com alças, em segundo no salto sobre a mesa e em quarto no solo. Nesta sexta-feira (8), no Ginásio Docão, Derick tentará ampliar a sua galeria de conquistas. 

O menino, que começou no esporte aos quatro anos e desde então não parou mais, teve a ginástica artística como salvação. Ele cresceu em uma área com elevados índices de criminalidade na capital gaúcha, onde muitos jovens acabam levados para o tráfico de drogas.


A rotina é puxada, mas certeira. Sai de casa todas as manhãs de segunda a sexta para a escola, na saída pega dois ônibus e encara uma hora de viagem até o Grêmio Náutico União. O clube oferece alimentação e toda a estrutura de saúde para sua carreira. É uma segunda casa, onde ele trilha o caminho no alto rendimento. 

A mãe, Daniele, trabalha na reposição das frutas em uma rede de mercados para ajudar nas despesas da casa, onde também mora a irmã do ginasta, Nicoly, de 20 anos. O pai nunca foi presente. Derick conta que o emprego de carteira assinada da mãe foi um alívio para a família. Antes disso, eles já tiveram que contar comida ou lidar com a falta dela.

"Lá onde moro é uma região bem carente e perigosa. Mas é onde tenho condições de morar. Às vezes tenho que sair dos treinos mais cedo para não correr tanto perigo na volta para casa. Quando não consigo voltar, fico na casa do meu amigo Deco, que estava na última edição dos Jogos da Juventude e é como um irmão para mim. Na semana passada, antes de vir para cá, houve uma disputa pelo tráfico e fiquei dias sem poder voltar para casa", conta Derick, que fala com admiração da mãe.

"Minha mãe é tudo na minha vida. Ela é chorona, vai ficar muito feliz com as medalhas. Ela sempre me apoia, não importa onde eu estiver, na escola, no treino ou quando eu não conseguia treinar por causa da passagem. Ela sempre faz tudo para eu seguir. É uma guerreira. O que mais quero é melhorar a vida dela e da minha irmã", diz o jovem. 


Derick tem a característica de ser um atleta centrado e disciplinado. Os famosos mortais o tornam conhecido pelo bairro. Ele já até ajudou um amigo a não seguir o caminho das drogas. É visto como exemplo e, apesar das dificuldades, mostra a todos que não vale a pena desistir.

"Há dias difíceis e já cheguei a me questionar se eu iria querer jogar fora uma parte da minha vida, mas percebi que deveria continuar na ginástica. É o que eu amo fazer. O Leo é como um pai. Ele tem muito afeto com todos nós. Outros dois técnicos, o Rogério e o André, também foram essenciais. Não quero decepcionar a mim nem mesmo essas pessoas que tanto me apoiaram até hoje", afirma Derick.

Os treinos acontecem seis vezes por semana, de segunda a sábado, por quatro horas. O ginasta e o treinador sabem da importância da correção de cada detalhe se quiserem alcançar a meta de chegar à seleção. Neste processo, Derick já é o atual campeão brasileiro juvenil nas barras paralelas.

"O Derick e o Caio (Fernandes) são jovens ginastas que estão sendo preparados para a categoria adulta. Esse tipo de vivência em uma competição multiesportiva é muito importante para eles. É um evento fundamental para o país e nós levamos com seriedade e trabalho duro. Os meninos já treinam comigo há mais de oito anos, com foco em chegar na Seleção Brasileira", conta Leonardo Finco, que é técnico da delegação do Rio Grande do Sul em Ribeirão Preto 2023.


Festa completa para o Rio Grande do Sul

A festa do Rio Grande do Sul veio com outros dois atletas do Grêmio Náutico União: Caio Fernandes, que também é atleta de Finco, ajudou Derick a garantir o ouro por equipes, além de conquistar a medalha de prata no individual geral (86.350). O ginasta passou para cinco finais por aparelhos, com direito ao primeiro lugar nas únicas apresentações não vencidas por Derick: o solo e o salto sobre a mesa. Também ficou em segundo no cavalo com alças, argolas e barras paralelas. 

No feminino, Nicole Campos, também do Grêmio Náutico União, foi a campeã do individual geral (61.933). Ela e Francine de Oliveira garantiram o ouro por equipes para o Rio Grande do Sul.

"Tenho muito orgulho de estar aqui representando o Rio Grande do Sul. É minha primeira vez nos Jogos da Juventude e estou dando passo por passo. Estou amando ver as meninas se esforçando tanto. É uma competição maravilhosa. Vou fazer o mesmo salto amanhã e o meu solo vai ter Brasileirinho", contou Nicole.


Ginástica artística nos Jogos da Juventude

O primeiro dia de competições de ginástica artística nos Jogos da Juventude Ribeirão Preto 2023 teve as definições dos medalhistas no individual geral e por equipes, e dos classificados para as finais por aparelhos. No feminino, foram definidos quatro aparelhos: salto, paralelas assimétricas, trave de equilíbrio e solo. No masculino, são seis: solo, cavalo com alças, argolas, salto, paralelas e barra fixa.

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