Ex-atleta olímpica pela Georgia, treinadora Andrezza Chagas conduz dupla da Paraíba ao título da 2ª divisão do vôlei de praia nos Jogos da Juventude 2025
Brasileira ganhou dupla-cidadania do país do leste europeu e assumiu até nome georgiano para disputar os Jogos Olímpicos de Pequim-2008

Campeã da segunda divisão do vôlei de praia feminino nos Jogos da Juventude CAIXA Brasília 2025, a dupla da Paraíba contou com uma experiência olímpica à beira das quadras para chegar ao título da competição. Mickaellen Azevedo e Yasmim Chagas foram comandadas pela treinadora amazonense Andrezza Chagas, que disputou os Jogos Olímpicos de Pequim-2008 – com um detalhe: defendendo a Geórgia. Isso mesmo, a brasileira aceitou o convite de receber a dupla-nacionalidade para brigar pela vaga olímpica e realizar o grande sonho da vida, mesmo que por outro país.
“Eu estava disputando uma etapa de vôlei de praia e o marido de outra jogadora escutou uma pessoa da Geórgia falando que queria uma dupla brasileira para representar o país dele, que não tinha tanta tradição na modalidade. Foi quando ela contou que tínhamos chances de conseguir essa vaga olímpica para eles”, conta Andrezza. A cena de história de cinema foi protagonizada por Cristine Santanna.
Classificadas para disputarem os Jogos Olímpicos na China, as brasileiras Cristine Santanna e Andrezza Martin assumiram os nomes Cristine Saka e Andrezza Rtvelo – juntos, os dois sobrenomes foram a palavra Sakartvelo, que significa Geórgia, em georgiano. Digno de um bom roteiro de filme, o jogo de estreia foi justamente contra a dupla brasileira formada por Ana Paula e Larissa.
“Claro que o Brasil é a nossa nação, mas quando você está em quadra o que importa de verdade é o esporte, é a magia que ele tem. O Brasil sempre teve bons atletas, então estava muito bem representado. Já para mim, disputar uma Olimpíada foi um sonho realizado”, comenta Andrezza. Aquele jogo terminou com vitória para o Brasil, por 2 a 1.
Mas outra partida ainda reservava às brasileiras naturalizadas georgianas o clímax desse filme. No contexto político internacional, Geórgia e Rússia estavam em guerra. Os dois países até firmaram um acordo de paz cinco dias antes de as duas nações se enfrentarem no vôlei de praia dos Jogos Olímpicos, mas foi inevitável que a tensão política invadisse as quadras.
“Esse aspecto político colocou uma pressão enorme na gente. Até a primeira dama da Geórgia foi no nosso quarto, pessoalmente, falar que a medalha olímpica poderia não vir, mas a vitória naquele jogo era muito importante”, conta Andrezza. O confronto foi decidido apenas no tie-break, com vitória para as brasileiras naturalizadas georgianas.
Um gostinho das Olimpíadas nos Jogos da Juventude
Agora na versão treinadora, Andrezza experimenta o frio na barriga de estrear nos Jogos da Juventude, já que não participou do evento multiesportivo enquanto atleta. “Estou vivendo esse sonho com minhas atletas e adorando a magia de estar nessa competição. É uma preparação mesmo para competições de nível nacional e internacional. Os Jogos da Juventude têm uma magia parecida com os Jogos Olímpicos, tem o refeitório onde passam todos os atletas de todas as modalidades, tem o sistema de transporte, a questão de poder torcer para um outro esporte, seja do seu país ou, no caso daqui, do seu estado. É muito parecido com o clima olímpico”, compara.
Aos 48 anos, Andrezza ainda atua como jogadora, mas há oito anos divide a carreira de atleta com a de treinadora na escolinha que montou em João Pessoa, onde a amazonense de Manaus mora há uma década. A dupla da Paraíba campeã dos Jogos da Juventude em Brasília foi uma das primeiras a integrar a escolinha, que começou com quatro alunos e transformou-se em CT Andrezza Chagas, abrigando 180 atletas atualmente.
“A Mickaellen Azevedo e a Yasmim Chagas são cria da minha escolinha e eu fico muio orgulhosa. Tem uma geração boa vindo. Eu sou do Amazonas, mas a Paraíba está no meu coração hoje e eu faço um trabalho de fomentar esse esporte que me deu tudo”, compartilha Andrezza.
Yasmim, inclusive, é sobrinha da treinadora. Boa parte da família de Andrezza é envolvida com o vôlei. “Os pais da Yasmim também foram atletas, é um esporte que está no nosso sangue. Minha filha de 6 anos já está na escolinha e meu filho, de 12, também já joga e leva muito jeito”, conta.