Com disputa da inédita final olímpica, bobsled do Brasil termina participação histórica em Pequim 2022 na 20ª colocação
Na despedida do piloto Edson Bindilatti das pistas, equipe formada ainda por Edson Martins, Erick Vianna e Rafael Souza consegue a classificação para a quarta descida pela primeira vez em cinco Jogos
Despedidas são sempre difíceis, mas Edson Bindilatti, piloto do Brasil no
bobsled, não pode reclamar. Depois de 20 anos dedicados ao esporte, em sua
última edição de Jogos Olímpicos, finalmente, cumpriu o objetivo de levar o
país à final olímpica. Ao terminar a prova do 4-man em Pequim 2022 no 20º lugar
neste domingo, 20, o quarteto do Brasil, que contou ainda com Edson Martins,
Erick Vianna e Rafael Souza, teve o melhor desempenho olímpico da modalidade.
Para o homem que virou um símbolo da modalidade por estar presente nos Jogos de
Salt Lake 2002, Vancouver 2010, Sochi 2014 e Pyeongchang 2018, a sensação é de ter
feito o que o Brasil merecia há algum tempo: estar entre os 20 melhores do mundo.
“É uma sensação de dever cumprido muito grande. Foram muitos anos de trabalho,
dedicação, muita luta. O Brasil é isso, é coisa grande. A gente se dedicou
bastante, lutamos bastante. Tivemos muitas dificuldades para chegar até aqui,
mas só tenho agradecer porque a gente focou em resultado, evolução, em crescer,
não ficamos nos lamentando”, contou Bindilatti.
O resultado histórico começou no sábado, 19, quando foram realizadas as duas baterias
iniciais. Na primeira, o Brasil marcou 59.49, o 20º tempo entre 28 trenós. Na
segunda bateria, conseguiram ir além: 16º melhor tempo com 59.60. Já neste
domingo, na terceira, o tempo foi de 59.78, o 23º tempo entre os 28, que causou
uma certa preocupação de não avançar para
final entre os 20. Mas nenhuma outra equipe superou a soma das três parciais
do trenó brasileiro, que pode, enfim, fazer a tão esperada quarta descida em
Jogos Olímpicos. O tempo da última bateria foi 59.61, novamente o 16º melhor.
“Antes de começar a quarta descida, foi impressionante. Estava vindo da sala de
troca até o bloco de partida, algumas pessoas batendo palma, sabiam que era a
minha última descida e a emoção veio, vontade de chorar, mas segurei porque
precisávamos fazer bem essa última descida. Mas depois que passou a linha de
chegada, não aguentei. Foi lindo porque chegar aos 42 anos em alto rendimento e
pegar uma final olímpica, mostra que se você tem o objetivo, tem dedicação, uma
hora vai dar certo”, completou Bindilatti.
Além de Jefferson Sabino, reserva que participou ativamente da preparação durante todo o tempo na China, a equipe
brasileira comandada pelo treino Bryan Berghorn, contou com um sexto elemento.
Odirlei Pessoni, falecido em março de 2021, esteve representado na parte interna do trenó, mas também no coração de todos os quatro integrantes da equipe.
“Eu fiquei de segundo homem, no lugar do Odirlei. Depois da terceira descida,
tivemos que nos motivar novamente. Lembramos que ele era o cara que sempre
animava a equipe e todos falamos: vamos lá, é por ele também. E conseguimos
fazer uma quarta descida melhor”, disse Rafael Souza.
“Odirlei está presente com a gente. Ela foi uma peça fundamental para o nosso
time. Empurramos por nós e por ele. Onde ele estiver, tenho certeza que está
muito feliz com o nosso desempenho, com o que conseguimos fazer hoje”, disse
Edson Martins.
Passados os Jogos Olímpicos, é hora de projetar o futuro da modalidade, agora
com Edson Bindilatti longe do carrinho. O desempenho histórico pode facilitar o
caminho para seguir em evolução.
“Foi um resultado fantástico. Desde 2013, quando comecei no esporte, o Brasil
queria estar no top-20. A gente plantou a semente, regou, cuidou, até que os
frutos vieram. Quando nós chegamos no topo da pista depois da terceira descida,
todos os países vieram dar parabéns pelo nosso trabalho. Agora é dar
continuidade, formar novos pilotos e breakers (atletas que empurram e freiam o trenó) para chegarmos ainda mais fortes
em 2026”.
“Faz uns dois anos que não tomo refrigerante. Então, combinei com minha mulher
de comer um hambúrguer caseiro e tomar um refrigerante quando chegar em casa.
Esse é o meu primeiro objetivo. Mas depois é seguir trabalhando nos bastidores para
melhorar ainda mais as condições para que novos e mais atletas cheguem na
modalidade. Esse nosso resultado e o top-15 da Nicole mostraram que temos uma
real condição de disputar entre os grandes. Esperamos que a gente consiga
seguir evoluindo para chegar muito forte para 2026 e 2030”, completou Bindilatti.
A prova do 4-man no bobsled foi a última do Brasil nestes Jogos Olímpicos de
Inverno. O país encerra a participação na China com o desfile de Encerramento,
a partir das 9h da manhã deste domingo, 20. A bandeira será conduzida por Manex
Silva, que terá ao lado a atleta Eduarda Ribera, o chefe de Missão, Anders
Pettersson, e o fisioterapeuta Ronaldo Aguiar.
Pequim 2022 foi a nona participação brasileira em Jogos de Inverno, iniciada em
Albertville 1992. Contando com essa edição, o Brasil contou com 40 atletas
diferentes atletas nos Jogos Olímpicos de Inverno, sendo 13 mulheres, em nove
modalidades: biatlo, bobsled, esqui alpino, esqui cross-country, esqui estilo
livre, luge, patinação artística, skeleton e snowboard.