Robert Scheidt receberá Troféu Adhemar Ferreira da Silva no PBO
Dono de cinco medalhas olímpicas, velejador será o homenageado de 2025 no Prêmio Brasil Olímpico

Júlio César Guimarães/COB
Robert Scheidt será o homenageado de 2025 com o Troféu Adhemar Ferreira da Silva no Prêmio Brasil Olímpico (PBO), que será realizado no dia 11 de dezembro, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. O PBO reúne os principais nomes do esporte nacional para celebrar conquistas, reconhecer talentos e inspirar novas gerações. O Troféu Adhemar Ferreira da Silva é destinado a atletas e ex-atletas que com uma carreira notória e de destaque em valores como ética, eficiência técnica e física, esportividade, respeito ao próximo e companheirismo, o que pode perfeitamente descrever o velejador. Um merecido reconhecimento para um atleta que por anos foi o maior medalhista olímpico do Brasil (junto com o também velejador Torben Grael – ambos foram superados em Paris 2024 pela ginasta Rebeca Andrade).
Para chegar até aqui, foi uma vida dedicada ao esporte. Muitos ventos sopraram na vida do pequeno Robert Scheidt desde que começou a velejar ainda aos 5 anos. “Comecei na companhia do meu pai, na represa de Guarapiranga, Zona Sul de São Paulo. No início foi de uma forma muito recreativa, foi mais para aprender uma atividade esportiva de lazer nova. Aos 9 eu ganhei meu primeiro barco e aos poucos eu fui me apaixonando por esse esporte, curtindo muito essa sensação de liberdade que a vela me deu, de contato com a natureza, com o vento, com as águas”, relembra.
A paixão que se desenvolveu ainda criança foi genuína, mas ele não sonhava com tudo que veio pela frente. “Fui aos poucos me desenvolvendo como atleta, mas no início não imaginava realmente que eu poderia chegar aonde eu cheguei no esporte, as coisas foram acontecendo aos poucos”. E ele chegou ao topo. Ao todo, foram sete edições de Jogos Olímpicos e cinco medalhas conquistadas: dois ouros (Atlanta 96 e Atenas 2004), duas pratas (Sydney 2000 e Pequim 2008) e um bronze, em Londres 2012.
Nada mais natural que fosse ele o escolhido para receber o Troféu Adhemar Ferreira da Silva no Prêmio Brasil Olímpico 2025. “Eu já conheço o prêmio há muitos anos, praticamente desde que ele foi instituído. Acompanhei diversas cerimônias onde vários grandes atletas receberam esse prêmio. Para mim é uma honra muito grande ser escolhido neste ano. Eu sei da importância, é um prêmio extremamente especial para alguns atletas que foram muito destacados para o Brasil”, emociona-se.
Hoje reconhecidamente referência, Scheidt ainda se recorda de quando se espelhava em outros atletas brasileiros. “Eu me inspirei muito no Joaquim Cruz, foi a primeira vez que eu vi uma prova olímpica pela televisão: o Joaquim ganhando os 800m em Los Angeles 84. Além dele, Torben e Lars Grael, Oscar Schmidt, Aurélio Miguel e Gustavo Borges, foram atletas que foram verdadeiras referências para mim, me inspiraram a seguir sonhando com uma medalha olímpica”, revela.
Um sonho que começou a tomar forma numa praia muitos anos atrás, durante uma competição quando ainda era criança. “Na minha primeira competição nacional, quando eu tinha 10 anos de idade, encontrei um cavalo do jogo de xadrez. Meu pai disse: ‘Guarda essa peça porque ela pode ser um símbolo importante para toda a tua carreira’. E durante décadas levei este cavalo comigo para as principais competições”, revelou.
Na cabeça de um ainda muito jovem atleta, fez todo sentido. “O cavalo tem esse símbolo da força. Ele é a única peça do jogo de xadrez que pode passar por cima das outras. Então foram energias muito positivas. Em 2015 eu tive uma mochila roubada e este cavalo estava dentro. Curiosamente, nunca mais ganhei um campeonato mundial e uma medalha olímpica”, conta.
Até então, contudo, foram diversas vitórias e várias medalhas. Scheidt garante que todas são especiais, mas admite que uma até hoje tem um lugar carinhoso na memória. “A primeira medalha de ouro, aos 23 anos, em Atlanta 96. Passei de um atleta praticamente desconhecido no Brasil a campeão olímpico. Aquele foi um momento muito especial, uma virada na minha carreira. Se eu precisasse escolher um momento, seria essa primeira medalha olímpica em 96”, afirma.
A dedicação à vela lhe garantiu outras seis edições de Jogos Olímpicos numa carreira longeva e vencedora. “Quando eu iniciei, não esperava conseguir tantas participações olímpicas assim”, confessa Scheidt. Mas ele tinha um segredo. “Você não baseia toda a sua caminhada somente em resultados, tem o lado do prazer. Colocar meu barco na água e velejar me dá uma sensação de liberdade, de contato com a natureza, limpa a minha cabeça. Isso me fez evoluir como velejador. Não era só ganhar as competições, mas saber que eu era um velejador mais completo, de tentar evoluir aquele 1% a cada dia”, descreve.
A caminhada vencedora passou por mais de uma classe. Robert Scheidt é um caso de vencedor sozinho e em equipe. Os ouros de Atlanta e Atenas e a prata de Sydney foram conquistados na Laser, barco de apenas um tripulante. Já a prata de Pequim e o bronze de Londres foram na classe Star, em dupla com Bruno Prada. As duas exigem, segundo Scheidt, abordagens bem diferentes. “No Laser eu dependia só de mim, era uma questão de muita disciplina pessoal. Tomava as decisões sozinho, tinha a responsabilidade pela vitória e pela derrota. Velejar em dupla foi um desafio muito grande. Eu tive que entender que havia outra pessoa, com uma outra personalidade, no barco. Acho que cresci muito no lado pessoal nessa dupla com o Bruno, porque tive que entender a dinâmica de uma dupla, o que deixar a cargo dele, o respeito e a cooperação que você tem que ter com o teu companheiro”, explica.
Nas palavras do homenageado deste ano sempre se escuta um tom de agradecimento ao que o esporte lhe deu. A conexão com a natureza, a forma de interagir em equipe, a concentração necessária para velejar sozinho. Benefícios que ele espera que continuem encantando os que virão depois dele. “O esporte tem esse poder de inspirar a nova geração e foi assim comigo. Quem sabe meu legado é que esses garotos vejam minha performance, minhas medalhas e usem isso como um sonho, como uma inspiração. Sempre tentei fazer as coisas de forma organizada, com bastante trabalho, disciplina e humildade, respeitando os adversários, as regras do jogo. E fui muito feliz porque consegui fazer da minha paixão, que é velejar, a minha profissão”, comemora.
Uma profissão vencedora, uma paixão correspondida e agora uma homenagem merecida. “E espero que a gente aproveite muito essa cerimônia. Um momento de celebrar uma carreira, celebrar uma vida dedicada ao esporte. Fico muito grato ao Comitê Olímpico do Brasil e à comunidade de esporte por terem me escolhido.”












