Publicidade nos Jogos Olímpicos: 'Temos que olhar a Regra 40 como proteção, não como algo regulatório'
Painel da COB Expo reúne especialistas para debate sobre gerenciamento de carreira olímpica, patrocínio aos atletas e como a Regra 40 protege esportistas e marcas do marketing de emboscada

O patrocínio ao esporte olímpico precisa ser uma jornada da
marca ao lado dos atletas e entidades. Essa é a conclusão de duas mesas de
debate e uma apresentação durante a COB Expo, a feira de todos os esportes,
realizada nesta quarta-feira (27), em São Paulo. Especialistas debateram
durante quase três horas temas de alta relevância faltando pouco menos de
um mês para os Jogos Pan-americanos Santiago 2023 e de um ano para os Jogos
Olímpicos Paris 2024. Entre eles, gerenciamento de uma carreira olímpica,
patrocínio a atletas e como a Regra 40 protege esportistas e marcas do marketing
de emboscada. O último tema fechou o painel abordando a necessidade de um novo
olhar para o regramento.
“Temos que olhar para a Regra 40 como uma proteção e não como algo regulatório,
impeditivo. A empresa que reclama de não poder exibir sua marca durante os
Jogos ainda não entendeu o que é apoiar o atleta em sua jornada. E se ele não
for aos Jogos Olímpicos? Vão rescindir o contrato? É preciso ser criativo”, disse
Tatiana Braga, fundadora e executiva de marketing da Tb&Co Experience
Marketing, que cuida da carreira de diversos atletas, entre eles a medalhista
olímpica Rayssa Leal.
“O COB flexibilizou algumas regras pensando nos protagonistas dos Jogos, os
atletas. Mas a nossa ideia sempre foi que as empresas não sejam oportunistas,
não aproveitem apenas o curto período das principais competições do ciclo
olímpico para se aproximarem dos atletas. O que queremos é incentivar uma
relação longeva, que efetivamente apoie o atleta ao longo da carreira”, contou
Mariana Raad, supervisora de marketing do Comitê Olímpico do Brasil (COB).
As duas e o diretor de marketing, Gustavo Herbetta deram detalhes de como
funciona a regra e incentivaram a tomada de decisões criativas, mostrando que é
possível estar ao lado dos atletas de formas diferentes que apenas a exposição
de marca.
“É preciso entender que as empresas que apoiam o Comitê Olímpico Internacional
e, por conseguinte, também são patrocinadoras dos 206 Comitê Olímpicos
Nacionais, investem cerca de 150 milhões de dólares por ciclo. E elas não têm o
direito de expor suas marcas no campo de jogo nos Jogos Olímpicos. Elas
entenderam, vão além disso e estão conseguindo o reconhecimento e alcance que
almejam. Os aros olímpicos são a marca mais valiosa do universo esportivo, com
um reconhecimento de 91% das pessoas no Brasil”, contou Herbetta.
Resumidamente, as marcas que quiserem veicular campanhas durante os Jogos Pan-americanos
e Olímpicos precisam ter começado esse trabalho seis meses antes do início das
competições, com o consentimento do atleta, serem genéricas (sem
referência direta aos Jogos) e ter a aprovação do COB. O período de blackout
começa 10 dias antes dos Jogos e termina três dias depois. Os atletas podem
agradecer aos patrocinadores que não são Olímpicos num post único numa única
plataforma. Todos os detalhes podem ser
vistos nesse documento: https://www.cob.org.br/pt/documentos/download/dc2a24d588bda/
O painel foi aberto com a mesa redonda “Atleta não é
produto: oportunidades do esporte feminino” com Tatiana Braga; Lívia Pinheiro, brand
creative manager da Fisia, distribuidora oficial da Nike do Brasil; e Jaqueline
Hartmann, head de marcas e comunicação Docile.
“A indústria precisa ser mais sensível, os atletas nos ensinam isso. A Rayssa
tem a doçura e a gentileza que são nossas marcas. E, por isso, queríamos ter um
espacinho no coração dela. Trouxemos os amigos dela para campanha, levamos ela
e a família para conhecer a fábrica, ela jogou bola no campo em frente à
fábrica. Cada pessoa que trabalha na fábrica da Docile e as famílias deles
conheceram a Rayssa. E isso trouxe uma conexão muito maior, autêntica”, disse
Hartmann.
“Queremos ver o lado humano dos atletas. Se há uma ligação deles com um
projeto, com pessoas específicas, com uma cidade, é isso que a gente quer. Existe
o pico que são os Jogos Olímpicos, mas os atletas não vão estar sempre ganhando,
podem nem estar nas Olimpíadas. Então, é muito importante estar em todos os
momentos, acompanhando a jornada do atleta”, contou Lívia Pinheiro.
“O atleta não é um produto, o atleta é um símbolo de autenticidade. Eles têm
essa necessidade de devolver alguma coisa para sociedade em agradecimento ao
que o esporte deu a eles, seja tempo, seja engajamento. Extraiam o que essas
pessoas têm de melhor, mas os atletas também podem exigir das marcas, que elas
contribuam com a comunidade de alguma forma”, finalizou Tatiana.
Por fim, uma mesa reuniu agentes de atletas no intuito de debater as melhores
práticas para o gerenciamento da carreira de um atleta olímpico. A troca contou
com Tatiana Braga, Sthepanie Figer, Agente FIFA; Marcel Ferraz Camilo, advogado
e empresário de atletas olímpicos; Danielle von Schneider, fundadora da Agência
de Atletas; e Alessandra Menga, fundadora Menga Marketing e Agenciamento.
“O papel do atleta é treinar, competir, vencer e fazer as coisas que ele gosta.
O nosso é fazer todo o resto, desde pagar contas até buscar patrocínios e
oportunidades”, contou Menga.
“O atleta é uma pessoa com muitas necessidades. A nossa preocupação enquanto
ele está na competição é blindar de coisas externas que possam interferir no
desempenho e, depois da competição, estar preparado pra tudo que vem a reboque,
seja positivo ou negativo”, analisou Marcel.
Por fim, Danielle destacou a necessidade de planejamento: “Temos que conversar muito
com os atletas, entender as necessidades deles, quais são os focos e objetivos.
A partir daí, elaborar um plano para utilizar o que o atleta tem de diferente
dos demais e o conecta com determinada marca. Por isso que o gerenciamento de
imagem é um grande diferencial”.