Criador e criatura: medalhista olímpico Zion Bethonico e designer das medalhas Dante Uwai se encontram em Gangwon 2024
Brasileiros trocaram informações sobre os objetos; vencedor do concurso de design tocou a medalha que projetou pela primeira vez

Uma
conjunção de fatores perfeita. Quando o arquiteto brasileiro Dante Akira Uwai
venceu o concurso de designer das medalhas de Gangwon 2024, ninguém poderia
imaginar que o feito abriria uma porta de sucesso para os atletas do Brasil na atual
edição dos Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude. Zion Bethonico quebrou uma barreira
e conquistou o bronze no snowboard cross, a primeira medalha olímpica do Brasil
em esportes de inverno. E isso deu a Dante uma chance única também: tocar na
medalha que ele mesmo projetou.
“Foi incrível poder tocar na medalha! Essa relação do toque do usuário com a
obra de arte era algo que estava no conceito da medalha desde o início. Eu
sempre falei que não era uma pintura para apenas olhar, mas, sim, uma escultura
para interagir. Tocando, a obra se concretizou. Foi muito emocionante saber que
aquela medalha que estava nas minhas mãos pertence a um brasileiro como eu”,
contou Dante.
Apesar de ter recebido das mãos do Presidente do Comitê Olímpico Internacional
(COI), Thomas Bach, um conjunto com as medalhas de ouro, prata e bronze, ninguém
pode tocar nelas porque havia uma proteção de acrílico que permitia apenas a
visualização. Problema resolvido por Zion ter subido ao pódio em Gangwon.
“Fiquei muito feliz quando soube que era um brasileiro que havia desenhado a
medalha. Foi uma coincidência enorme estarmos trabalhando juntos para levar um
pedacinho do Brasil de volta para casa a partir da Coreia do Sul. Achei
sensacional isso”, contou Zion que, por não estar hospedado na Vila Olímpica,
que ficava muito distante do local da competição dele, não se encontrou com
Dante quando ele e a família visitaram a área de residência dos atletas.
Assim, Bethonico olhou o conjunto com as três medalhas pela primeira vez
durante o encontro na Ice Arena, que recebia o jogo de curling Brasil e
Dinamarca. “Quando olhei o conjunto com as três medalhas, a primeira coisa que
pensei é que a de ouro era um pouco mais bonita que a de bronze. Mas com muito
trabalho e dedicação, em Milão-Cortina, eu vou colocar uma de ouro no peito”,
contou.
Aliás, o curling também fez história e conseguiu a primeira vitória olímpica da
história do Brasil na modalidade. Para Dante, as medalhas podem ter inspirado
os atletas brasileiros. “Eu espero que tenha ajudado um pouquinho sim, as
evidências estão mostrando isso, mas para garantir tinha que fazer mais algumas
medalhas”, disse sorrindo.
Zion e Dante tiveram a oportunidade de conversar por alguns minutos e mostraram
um respeito muito grande um pelo trabalho do outro.
“Tive a oportunidade de visitar o perfil dele em uma rede social e achei muito interessante
a arte que ele desenvolve. Acredito que ele também ficou muito feliz de um
brasileiro ter conseguido a medalha que ele desenhou”, contou Zion.
“O Zion é uma pessoa muito tímida, mas muito querida e carinhosa. Para mim, foi
incrível saber como é a cabeça de um atleta, como ele realmente entrou para
ganhar, não só para fazer o melhor. Por essa mentalidade de atleta dá pra ver
que o Zion vai buscar outras medalhas no futuro, com certeza. Quem sabe mais
alguma que eu tenha projetado?”, completou Dante.