Jovens venezuelanos encontram caminho graças ao basquete do Amazonas: “Pilares”
Treinador Yuri Lima destaca papel de Steven, Faverson e Carlos na equipe; Jogos da Juventude ajudaram garotos a ganhar oportunidade de estudo e a se adaptar ao Brasil com mais facilidade

De
acordo com dados da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), estima-se que mais
de 6 milhões de refugiados e migrantes venezuelanos haviam deixado o seu país
de origem até o início de 2022. Destes, aproximadamente 350 mil tiveram como
destino o Brasil, sendo 40 mil para o Amazonas. Uma pesquisa da ACNUR e Pólis
Pesquisa apontou que mais da metade da população venezuelana em Manaus pode
contribuir com a diversificação da economia e desenvolvimento local, porque
contam com formação de nível médio, técnico ou superior em áreas como educação,
administração e engenharia.
Contudo, as pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela que têm empregos
formais ou informais recebem menos que os brasileiros com a mesma formação e 15%
das mulheres venezuelanas não trabalham fora de casa por ter que cuidar das
crianças ou da família. Além disso, um terço dessas mães são as únicas
responsáveis por cuidar do sustento e de demais membros da casa.
Uma situação complexa que exige um trabalho conjunto entre brasileiros e venezuelanos
para que algo da realidade de migrantes e refugiados mude. Um bom exemplo de
como seguir pode vir, justamente, do esporte. A equipe masculina do Amazonas
conta com três jogadores nascidos no país vizinho, que ganharam bolsas de
estudos para poderem jogar e representar a instituição, a cidade e o estado.
“Na nossa equipe, eles são os pilares, cada um tem uma função muito importante.
Nós, como escola, tivemos esse acolhimento para com eles, justamente por
perceber o esporte como uma válvula de escape de diversas situações problemáticas.
Quando você sai do seu país para outro, precisa se reestruturar”, comentou o
treinador Yuri Lima, que detectou o talento nos jovens e os indicou para as bolsas
de estudos no CMPM 1.
O Amazonas encerrou a participação nos Jogos da Juventude nesta sexta-feira
(15) contra o Espírito Santo, lutando para permanecer na segunda divisão do basquete. Anteriormente, já haviam enfrentado Distrito Federal,
Goiás e Paraíba sem sucesso. Apesar disso, Steven, Faverson e Carlos têm
motivos para comemorar.
“É a primeira vez que eles disputam um torneio nacional. A equipe foi formada
pensando em um projeto de médio prazo, para o ano que vem. Por isso, todos que os
jogadores que estão aqui em Ribeirão Preto têm menos de 16 anos e poderão
voltar aos Jogos no ano que vem. Era muito importante para nós que eles
tivessem essa experiência”, completou o treinador, que, contando com os três,
foi campeão amazonense e disputou outras competições regionais.
“Faz dois anos que eles começaram a estudar e treinar conosco e estão bastante
integrados ao Brasil, com a equipe. Dois deles já estão falando português fluentemente.
São muito queridos por todos da equipe. Acredito que conseguimos tirar eles de
uma situação bastante vulnerável e possibilitamos um caminho”, completou Lima.
E esses não são os primeiros casos de filhos de migrantes ou refugiados que
passaram pelos Jogos da Juventude deste ano, em Ribeirão Preto. Alguns com um
pouco mais de sucesso, como Victoria
Arvelo, que representou o Espírito Santo no wrestling, e Alejandra
Sanchez, que defendeu Pernambuco na ginástica rítmica, outros com menos,
como Steven, Faverson e Carlos, do basquete do Amazonas.
Mas todos eles com um caminho a seguir graças aos Jogos da Juventude e ao
esporte olímpico.