Artista brasileira lidera coreografia da Cerimônia de Abertura dos Jogos Pan-americanos Santiago 2023
Aos 31 anos, Tamara Catharino comandou ensaios de segunda a segunda por três meses para entregar espetáculo de alto nível no Estádio Nacional do Chile

Aprender por meio do corpo é um lema da brasileira Tamara Catharino. Desde a infância, a dança foi um canal de expressão. Com a sensibilidade desenvolvida no decorrer da vida e o envolvimento com o universo esportivo, a artista de 31 anos encarou seu maior desafio profissional como chefe de coreografia da Cerimônia de Abertura dos Jogos Pan-americanos, realizada na última sexta-feira, 20, no Estádio Nacional do Chile.
Nascida em Niterói (RJ), Tamara acumulou experiências valiosas nos últimos anos até se tornar uma referência do país em coreografia de massas, que envolve grande quantidade de dançarinos e voluntários. A cerimônia de abertura do Pan de Santiago valorizou a cultura, a história e a diversidade do Chile. Foram cerca de 700 pessoas performando em cena.
"Conheci vários artistas locais e posso dizer que o show teve muito a ver com o conceito do que o país queria representar. A América do Sul tem uma versatilidade incrível, e nossa ideia foi trabalhar com a diversidade cultural do Chile", explicou Tamara.
A artista, que hoje se divide entre Brasil e Portugal, começou a dançar por influência da irmã, que havia sido encaminhada à arte pela mãe como atividade de fortalecimento físico e motor. Aos 18 anos, Tamara já participava de uma companhia de dança e logo se formou no ramo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, é mestre em Artes Performativas e cursa mestrado em Artes Visuais.
"Eu pratiquei vários esportes, como o futebol, e sempre fui uma pessoa do corpo, no sentido de praticar e aprender através das sensações. Por dançar desde os meus cinco anos, minha maneira de estar no mundo sempre foi pensando corporalmente. Para mim, a dança é esse canal de expressão. Comecei muito nova, então aprendi a ver o mundo através da sensibilidade e nunca mais quis parar", conta Tamara.
Operação minuciosa
Foi com essa energia que a brasileira comandou uma complexa operação. Os trabalhos tiveram início em fevereiro, de forma remota. O primeiro passo foi descobrir o conceito das cerimônias e, a partir das ideias a serem trabalhadas, liderar o processo criativo, que envolve a definição da trilha sonora e de toda parte visual do show.
Em maio, com o projeto estruturado, ela começou a trabalhar a movimentação e as coreografias. Em agosto, chegou ao Chile para os trabalhos práticos, incluindo o início dos ensaios.
"É um processo gigantesco. Trabalhamos todos os dias e ensaiamos à noite nos dias de semana. E aos sábados e domingos, trabalhamos de 10h às 22h, porque eram os dias que os voluntários podiam ensaiar a maior parte do show. Eu sabia que seria um grande desafio. Foi uma experiência desafiadora e incrível. O coreógrafo massivo não coordena apenas a parte que tem dança, mas tudo o que se movimenta em cena", explica Tamara.
O salto na carreira veio após a artista aproveitar oportunidades expressivas como bailarina profissional, como integrar os elencos dos Jogos Pan-americanos Rio 2007 e dos Jogos Olímpicos Rio 2016. O desempenho rendeu até um convite para ser assistente de coreografia dos Jogos Paralímpicos da capital fluminense.
Na ocasião, os coreógrafos internacionais precisaram de assistência, e Tamara foi alocada para auxiliar na coreografia de massas. Com isso, passou a conviver e aprender com profissionais acostumados aos shows em larga escala.
Depois do megaevento, Tamara ainda trabalhou como coreógrafa massiva nos Jogos Pan-americanos de Lima 2019, esteve em projetos na Índia, em Dubai e na Arábia Saudita, e teve com um dos pontos altos da carreira a Copa do Mundo do Catar. Em janeiro deste ano, foi convidada a liderar as cerimônias de abertura dos Jogos Pan-americanos e Parapan-americanos de Santiago 2023.
"Eu sempre fui muito cativada pela possibilidade de poder trabalhar com pessoas que dançam e outras que não dançam, mas disponíveis para aprender uma experiência. Na escala massiva, às vezes pode haver 200 dançarinos, mas também pessoas com outros tipos de habilidades e que querem estar ali performando em cena. Gosto de trabalhar em uma escala micro e, depois, ver tudo em uma escala macro", contou a brasileira.
Mais fotos do COB em Santiago 2023: https://bit.ly/fotosdesantiago2023 - O crédito dos fotógrafos é obrigatório.