Yane Marques e Melânia Luz são unidas por homenagem e pioneirismo em Londres
Separadas por mais de seis décadas, pentatleta e velocista viveram auge de suas trajetórias no alto rendimento em Jogos na capital inglesa

Dentre os oito novos integrantes do Hall da Fama, duas mulheres. Melânia Luz, representada pela filha Maria Emília, e Yane Marques foram homenageadas nesta quinta-feira pelo COB como símbolos do pioneirismo feminino nos Jogos Olímpicos. Separadas por mais de seis décadas, as competidoras do atletismo e do pentatlo foram responsáveis por quebrar barreiras em Londres e servir de inspiração para gerações futuras.
Melânia foi a primeira mulher negra a representar o Brasil nos Jogos Olímpicos, competindo na segunda edição dos Jogos de Verão na capital inglesa, em 1948. Correu os 200m e o revezamento 4x100m, no qual a equipe brasileira selou o novo recorde sul-americano da época. A mesma Londres, 64 anos depois, voltou a receber o evento e viu Yane tornar-se a primeira mulher da América Latina a conquistar uma medalha no pentatlo moderno.
Melânia, três vezes medalhista sul-americana em provas de pista, abriu portas para que outras mulheres negras também tivessem espaço no esporte e fossem reconhecidas por seus feitos. Um destes expoentes, Janeth Arcain, dona de duas medalhas olímpicas no basquete, foi a responsável por chamar a homenagem nesta noite de gala em São Paulo. A filha, que recebeu a placa comemorativa pela mãe, falecida em 2016, se emocionou.
“Minha mãe estaria muito lisonjeada. Uma pena que a homenagem não veio em vida, mas onde minha mãe estiver ela está aplaudindo. Tenho certeza de que ela está muito feliz e orgulhosa desse reconhecimento”, disse Maria Emilia.
Do sertão pernambucano para Londres, Yane conquistou a última medalha do Brasil na edição de 2012 dos Jogos. Caiu exausta após cruzar a linha de chegada na prova combinada entre corrida e tiro, mas com a certeza de que seu feito era inédito. Colocou o Brasil de vez no mapa do pentatlo mundial e se apresentou a todo o país como medalhista olímpica. Quatro anos mais tarde ela teria a honra de ser porta-bandeira na cerimônia de abertura da Rio 2016.
“Sempre me entreguei com muita intensidade aos treinos, às competições. Eu vivia isso, respirava, transpirava. Quando ganhei a medalha em Londres falaram que era a primeira medalha da América Latina. É um plus, valoriza muito mais. Por que ninguém conseguiu antes e eu consegui agora? Isso traz esse sentimento bom de satisfação, de orgulho”, disse a hoje presidente da Comissão de Atletas do COB.
Na noite desta quinta, o COB eternizou, além de Melânia e Yane, os nadadores Ricardo Prado e Manoel dos Santos, o velejador Marcelo Ferreira, o judoca Walter Carmona e o jogador de vôlei Renan Dal Zotto, da turma de 2022. Zagallo, eleito em 2020, também foi homenageado em vídeo. Criado em 2018, o Hall da Fama até hoje gravou pés e mãos de 33 ídolos do esporte brasileiro.