
Guga Kuerten
Tênis
10/09/1976
•BIOGRAFIA
A influência no tênis veio ainda casa. Gustavo Kuerten aprendeu suas primeiras lições com o pai, Aldo, tenista amador e árbitro em algumas competições no sul do Brasil. O jovem construiu uma carreira brilhante na modalidade, com seu auge no final da década de 1990 e no início dos anos 2000, encantando quem já gostava do esporte e atraindo toda uma nova legião de fãs. Assim, Gustavo Kuerten, popularmente conhecido como Guga, se tornou o maior tenista da história do país.
Gustavo Kuerten nasceu em Florianópolis em 1976. Começou no tênis logo cedo, com apenas 6 anos de idade, com o incentivo do pai. Aldo Kuerten, era jogador amador e juiz de tênis, e viria a falecer justamente à beira da quadra, enquanto arbitrava uma partida de juniores em Curitiba. Guga, como já era chamado, tinha 8 anos à época. O jovem, porém, superou o luto e não deixou de se dedicar aos treinos de tênis. No entanto, a virada de chave veio aos 14, quando passou a ser treinado por Larri Passos, profissional que viu todo o potencial de Guga. E a história nos mostrou que o treinador não estava errado.
Já em 1994, ainda antes de se tornar profissional, Guga conquistou um título de Roland Garros no torneio de duplas masculinas juvenis jogando com o equatoriano Nicolas Lapentti. Em 1995, o tenista se tornou atleta profissional oficialmente. E, logo no ano seguinte, foi selecionado para a equipe brasileira que fez o país alcançar a primeira divisão da Copa Davis ao bater a equipe da Áustria. O Brasil começaria a ter o destaque no cenário internacional do tênis que se consolidou nos anos posteriores.
Mas foi em 1997 que o catarinense passou a ser conhecido em todo o mundo. Ainda sem os holofotes, Guga venceu seu primeiro Roland Garros. Ocupando a 66ª posição do ranking mundial, o tenista derrotou grandes nomes da modalidade, incluindo o espanhol Sergi Bruguera, duas vezes campeão, na final. Com um jeito extrovertido e muito talento, atraiu a atenção da imprensa e do grande público ao conquistar o primeiro título dele do Grand Slam francês. Na ocasião, um gesto chamou a atenção de todos os presentes. Em um estádio com 16 mil pessoas, ele subiu as escadas e abraçou seu técnico, sua mãe e seu irmão Rafael, em um momento humano pouco visto entre grandes atletas.
Este título finalmente trouxe grande projeção mundial a Gustavo Kuerten, que seguiu trilhando um caminho ainda mais brilhante. Depois do título em solo francês em 1997, Guga foi campeão do ATP Tour de Palma de Mallorca, do ATP Tour de Stuttgart, do Master Series de Monte Carlo e do Master Series de Roma. Mas ainda tinha mais pela frente.
Os anos 2000 foram gloriosos para o tenista. Ao contrário de 1997, Gustavo Kuerten chegou em Roland Garros já como cabeça-de-chave em 2000. Era o número 5 do ranking quando conquistou o segundo título em Roland Garros e atingiu o topo do ranking do ATP, onde ficaria por 43 semanas como melhor tenista do mundo. Mais que o maior brasileiro, Guga Kuerten se tornou o maior tenista do mundo. Foi a primeira vez em que um tenista sul-americano foi concedido com tal honraria no esporte.
Naquele mesmo ano, Guga ainda chegou perto de uma medalha olímpica, parando nas quartas de final dos Jogos de Sydney ao perder para um de seus maiores rivais, o russo Yevgeny Kafelnikov. O tenista brasileiro ganhou ainda o Masters Cup em Lisboa, torneio anual que reunia os oito melhores tenistas da temporada (como o ATP Finals atualmente). Ele se tornou o único tenista da história a derrotar as lendas Pete Sampras e André Agassi no mesmo torneio. Somando os torneios Masters Hamburgo, Roland Garros e Wimbledon naquele ano, o tenista alcançou a marca de 15 vitórias seguidas.
"Quando eu me tornei o número um do mundo em 2000, depois daquela vitória contra o André Agassi, a confiança transbordou para todas as áreas. Eu comecei a ganhar em todos os tipos de piso. Foi o auge do tênis no Brasil. As pessoas conversavam sobre os jogos pelas ruas. As minhas vitórias traziam esperança para as pessoas. Esse tempo me traz clareza para continuar recordando tudo aquilo. São exemplos como esse que o Brasil precisa", lembrou Guga em entrevista para a Agência Brasil.
Coração no Saibro
O ano de 2001 ficou marcado como a segunda melhor temporada da carreira de Gustavo Kuerten. Naquele ano, enfileirou os títulos de ATP em Buenos Aires e Acapulco, além do Masters de Monte Carlo. Esta também foi a temporada em que Guga conquistou mais títulos na carreira: seis troféus, sendo cinco de torneios ATP e um Grand Slam.
“A temporada de 2001 transmitiu a segurança, a confirmação. Tínhamos muitas facilidades para encontrar soluções difíceis dentro da quadra e atingi a consagração como tenista. Tenho a total convicção que foi o meu melhor ano. O primeiro título, em 1997, foi o mais surpreendente. Só que em 2001 estava no topo mesmo. O impacto não era só para os fãs. Era também para os adversários. A gente chegava na quadra e eles respeitavam muito. Eu estava jogando demais mesmo”, disse Guga à Agência Brasil.
Atual campeão, Gustavo Kuerten entrou no torneio de Roland Garros como cabeça de chave número 1. O jogo mais marcante da campanha aconteceu nas oitavas de final diante do norte-americano Michael Russel, que havia passado pelo qualifying. Foi no final daquele jogo que Gustavo Kuerten fez um coração na quadra Philippe Chatrier, a principal do complexo de Roland Garros.
Na ocasião, Guga usou a raquete para desenhar um coração no chão da quadra central da capital francesa e deitou no centro, agradecendo aos fãs. Além disso, o atleta se ajoelhou para agradecer pelo apoio dos torcedores que davam os primeiros gritos de “Allez Gugá” em apoio ao jovem brasileiro. Esta foi uma das mais emocionantes celebrações do esporte que está na memória de muitos fãs do tênis.
“A nossa missão dentro da quadra transbordou as linhas, de alguma forma todo mundo se emocionava com o que a gente fazia, sabendo pouco ou muito do tênis. Lembro da alegria, do momento de satisfação, e é o que vale. Essa é a recompensa mais linda que recebi na vida. Tudo foi construído através desse esforço contínuo de diversas gerações e a gente foi pegando inspiração. Cada momento era muito bacana, era louvável, tudo era sensacional. E foi nesse espírito que se criou a vontade e a esperança de vencer, que a gente conseguiu transmitir para todo mundo”, disse o ex-tenista ao Ge em 2021. Em 2022, a comemoração foi eleita a “comemoração mais icônica” no prêmio criado pelo Hall da Fama Internacional do Tênis após votação na internet.
No mesmo ano do tri em Roland Garros, o tenista somou incríveis 60 vitórias e a segunda colocação entre os maiores do ranking da ATP. Mas, infelizmente, os anos seguintes seriam marcados por problemas físicos com fortes dores no quadril, cirurgias e a queda de rendimento do atleta.
Despedida das quadras
Depois do tri na França, Guga optou por desistir da disputa de Wimbledon e foi direto para Stuttgart, onde se sagrou bicampeão do torneio alemão. Além desse título, Guga ainda seria campeão do Masters de Cincinnati. Em 2002, porém, passou a sofrer com as dores crônicas de quadril que encurtariam sua carreira. De 2005 a 2007 foram poucas competições, e a carreira genial de um dos maiores atletas que o Brasil e o mundo já viram estava se encaminhando para o fim.
A despedida oficial foi em 25 de maio de 2008, na quadra central do campeonato que consagrou Guga Kuerten, o Roland Garros. Naquele dia, foi presenteado com um troféu simbólico que reproduzia as camadas do piso que compõem as quadras do torneio francês. Mais tarde, Guga foi eleito embaixador mundial de Roland Garros.
O tenista foi o responsável por popularizar o esporte no Brasil e cativar fãs de tênis pelo mundo todo. “Naquela época o tênis virou uma febre, tudo virava motivo para colocar uma rede no meio. Em termos de conhecimento a gente não estava nem engatinhando ainda, e em termos de impacto era do tamanho do mundo. Se bem dosado, daria uma química boa. Se tivéssemos uns passos adiante a fórmula seria de sucesso.”, disse ao Ge.
Ao fim de seus quase 20 anos de carreira, Guga somou 28 títulos, sendo 20 individuais e oito em duplas.
Além do esporte
Mesmo aposentado, Guga não conseguiu se ver longe das quadras e do contato com o tênis. Afinal, é impossível contar a história de Guga Kuerten sem falar sobre a promoção do tênis para as próximas gerações. Desde que encerrou sua carreira profissional, o atleta sonhava com a Escola Guga, promovendo ainda mais o tênis no Brasil e aproximando a modalidade da vida dos brasileiros. Desde sua fundação em março de 2010, o projeto já iniciou milhares de alunos de todas as idades na prática do tênis.
Os números conquistados em sua trajetória vitoriosa o levaram ao Hall da Fama do tênis, em 2012. Agora, toda sua contribuição ao Olimpismo no Brasil, também o eterniza no rol de maiores atletas da história do esporte brasileiro.


