A número 8 da equipe brasileira levantava a torcida com suas jogadas extraordinárias durante a partida entre Brasil e Bulgária, pelo Campeonato Mundial de Basquete, em 1983, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. À beira da quadra, o jornalista Juarez Araújo comentou com o técnico Heleno Lima, brasileiro que comandava a Seleção do Peru: “Está aí o Magic Johnson de saia”, comparando as jogadas da menina às do astro do Lakers, que à época, brilhava nos jogos da NBA, nos Estados Unidos. Heleno, timidamente emendou: “Magic Paula”.
“Na matéria que escrevi sobre o jogo para o jornal A Gazeta Esportiva, coloquei no texto que o Brasil venceu em ritmo de Magic Paula. Daí para frente, o nome da Maria Paula ou Maria da Silva passou ser Magic Paula em todas matérias e títulos que eu fiz. A TV encampou o apelido e o resto da história todo mundo sabe”, compartilha Juarez. Nascia ali Magic Paula!
“Não é um apelido unânime, é meio controverso. Tem muita gente que acha que é americanizado. Outros acham que, talvez, eu que tenha me autodenominado Magic Paula. Seria muito abuso da minha parte querer me autodenominar, mas já que alguém deu e a coisa pegou, eu aceitei”, diz a armadora vice-campeã olímpica em Atlanta 1996 em entrevista exclusiva ao Hall da Fama do Comitê Olímpico do Brasil (COB).
“Depois, foi até importante porque surgiram muitas Paulas: Paula Pequeno, Ana Paula, tinha muita Paula no vôlei. Acho que deu uma diferenciada. Para mim, ser chamada de Magic Paula é uma honra porque eu gostava muito de assistir aos jogos do Magic Johnson. Eu não o imitava, vou ser sincera, acho que isso nasceu comigo. Meu jogo sempre foi assim antes de a NBA ser transmitida para o Brasil. Lógico que adorava o ver jogar, era difícil saber o que ele ia fazer com a bola. Era uma caixinha de surpresas”, completa.
Maria Paula Gonçalves da Silva tinha oito anos quando foi acompanhar a mãe, que ministraria um curso para as merendeiras num colégio em Osvaldo Cruz, cidade em que nasceu. Naquele dia, sem aviso prévio, ela se encontrou pela primeira vez com o grande amor da sua vida.
“O curso estava demorando, e eu sentada ali, sem fazer nada. Até que escutei um barulho de bola e fui lá fora ver o que era, estava quase escurecendo. Encontrei uma professora brincando com uma bola de basquete, comecei a acompanhar aquele movimento, o quicar da bola, a cesta, a redinha... Foi ali que eu me encantei”, detalha.
Segunda filha de uma família de quatro irmãs, todas Marias – Cássia Maria, Maria José e Maria Angélica, Paula nasceu no dia 11 de março de 1962, pelas mãos de um obstetra apaixonado por basquete. Durante a infância, passava o contra turno escolar no Clube das Bandeiras, já que os pais trabalhavam fora. Lá, treinou atletismo, natação, tênis de mesa e xadrez.
“Eu pegava a minha bicicleta e ia para o clube. Todos os dias, eu estava lá vivenciando o que tinha de esportes, até que descobri o basquete e virou uma única paixão. Mas, até então, para o que aparecia eu me inscrevia”, lembra ela, que deve ter herdado a veia esportiva do avô materno, Placidino Borges, ex-jogador de futebol do Palmeiras, quando o clube ainda se chamava Palestra Itália. A mãe, dona Ilda, também treinou atletismo. O pai, seu Eberard, dono de uma gráfica e de um jornal, em Osvaldo Cruz, não tem histórico esportivo.
Paula ainda era uma criança quando montaram o time masculino do Clube das Bandeiras.
“Todo mundo ia assistir aos jogos e eu acompanhava os treinos deles, quando chegava em casa, imitava o que tinha visto”, conta.
Quando surgiu o time feminino, Cássia, a irmã mais velha começou a treinar e a futura armadora da Seleção Brasileira insistia com a irmã para convencer o técnico, professor Ruy Camarinha, a aceitá-la no time, que era composto por adolescentes, com idade entre 15 e 17 anos. Paula só tinha 10 e, com medo de que ela se machucasse por ser muito pequena, o técnico recusou os seus pedidos enquanto pode.
A impossibilidade de treinar no clube não foi impedimento para que a menina Paula cultivasse o seu relacionamento de amor com a bola laranja. A paixão era tamanha que ela chegou a improvisar uma tabela com uma tampa de vaso sanitário no fundo do quintal.
“Acabei me tornando meio autodidata, aprendi sem ninguém me ensinar, de olhar e fazer. Quando eu fiz o meu primeiro treino no clube, fui brincar com o técnico e ele falou: ‘Ah! Mas você já sabe fazer bandeja, já sabe bater bola. Onde você aprendeu?’ Eu aprendi olhando. Eu só olhava”, revela.
Com tanta habilidade, Paula já entrou no time como titular.
Aos 12 anos, Paula recebeu um convite para jogar no Assis Tênis Clube e saiu de casa, com o apoio dos pais, para viver com a família do técnico, que tinha duas filhas no time, em Assis (SP).
“Eu me lembro de que todas as noites eu chorava, quando me deitava na cama. Eu não entendia por que brincar tinha que ser tão longe de casa. Eu chorava ao telefone, pedindo para voltar, mas minha mãe aguentou firme”, enfatiza.
Segundo Paula, dona Ilda era uma visionária.
“Uma mulher que estudou, se aposentou como chefe do Departamento de Águas de Piracicaba; fez Contabilidade, Jornalismo, Direito. Quando a gente ia jogar, no meu primeiro timinho, ela levava todo mundo na Kombi do meu pai, fazia o lanche, tinha essa liderança. Ela foi muito criticada por ter me mandado para fora de casa para jogar basquete com 12 anos, num período em quem o esporte era bancado pelo paitrocínio, uma brincadeira, uma atividade que não era profissional. Tinha muito preconceito, muito tabu. Mas ela viu que eu tinha grande potencial e que se ficasse em Osvaldo Cruz não iria evoluir. Ela achou que essa oportunidade de eu ir para um outro lugar, disputar campeonatos, ter treinos mais planejados, mais organizados, ia ser bom para mim”, detalha.
De Assis, ela foi jogar e estudar no Colégio Divino Salvador, em Jundiaí. Viveu um tempo com uma beata, dona Tereza, e, em seguida, foi para a casa de outras duas atletas, cujos pais eram dona Alice e “seu” Tite. Ainda em Jundiaí, Paula passou a morar com a avó e as irmãs Maria José, a “Dudé”, e Maria Angélica, a “Branca”, que jogavam no mesmo time. Pouco tempo depois, o pai e a mãe, recém-aposentados, se juntaram às filhas.
“Quando o meu pai e minha mãe chegaram já tinha uma proposta para ir para Piracicaba. Aí, a família inteira se mudou para Pira”, festeja.
Aos 14 anos, quando ainda jogava pelo Divino Salvador, Paula foi convocada, pelo técnico Antônio Carlos Barbosa, pela primeira vez, para a Seleção Brasileira Adulta e, ao contrário do que se pode imaginar, não foi uma grande alegria.
“Você chega na Seleção e vivencia aquele ambiente competitivo. Eu não entendia muito aquilo. Eu achei que ia chegar lá e ia brincar, mas na Seleção ninguém quer brincar, um está querendo comer o outro. No começo, quando a gente tinha dispensa, eu falava que não queria mais porque o treinamento não era para uma menina de 14, era para uma menina de 20. Como eu treinava com todo mundo, tive muitas lesões, estiramento de virilha...”, desabafa. “Eu não tinha noção da responsabilidade de vestir a camisa do Brasil e talvez isso tenha sido um fator positivo, eu não sentia essa pressão. Quando me tornei titular, tinha 15 anos”, emenda a jogadora mais jovem a ser convocada para a Seleção Brasileira de Basquete.
A estreia de Magic Paula jogando com a camiseta verde e amarela aconteceu na final do Campeonato Sul-americano de 1977, no Peru, contra as donas da casa. O Brasil perdia por 15 pontos.
“Faltando 10 minutos, o Barbosa me colocou numa posição que não era a minha, a de armadora. Foi aí que virei armadora na Seleção, eu jogava de ala no clube. Acho que fiz uns 15 pontos nesses 10 minutos. A partir daí, comecei a perceber que a coisa era mais séria. Pensei: esse negócio com que você está brincando aqui é um pouquinho mais sério. Mas a falta da pressão fazia com que eu jogasse com menos responsabilidade de ter que jogar bem. Eu entrava lá e jogava”, explica.
A influência dos pais na carreira de Magic Paula foi total.
“Tudo aconteceu por conta deles. Quantas meninas, quantos talentos, não só do esporte, estão por aí perdidas por falta de oportunidade, apoio? Nessa faixa etária você não tem muita percepção das coisas, do que pode acontecer. Acho que nem meus pais tinham, pois o basquete não era profissional, como se tornou depois na nossa geração, com bons contratos e visibilidade. Não sei o que passou na cabeça deles, bola de cristal acho que não pode ser”, diverte-se.
As mágicas que Paula fazia com a bola chegaram aos ouvidos das técnicas da Unimep, Maria Helena Cardoso e Maria Helena Campos, a Heleninha, que foram a Jundiaí só para vê-la jogar.
“Ficamos encantadas com ela. A Heleninha tinha sido armadora e viu na Paula muitas características que ela tinha. Ela era uma jogadora com uma visão de campo extraordinária, que fazia passes mirabolantes, daí esse apelido: Magic Paula. Como armadora, ela enxergava tudo, todas as possiblidades no ataque, das jogadoras que estavam livres para ela servir, e isso foi uma característica muito marcante”, detalha a ex-técnica da Seleção.
Em 1979, Paula deu início à sua longa carreira na Unimep.
“Quando fui para Piracicaba, já foi um contrato profissional. Eu ia jogar por uma universidade, um projeto inovador para o Brasil. A partir daí começaram as disputas com os times da Hortência, a Prudentina, Sorocaba, e aquela coisa toda, televisão, Luciano do Valle, TV Cultura... Basquete feminino passava na TV. Aí sim eu acho que fui passando a ser mais conhecida”, reflete Paula, que nunca cedeu à sedução dos holofotes. “Eu sou supertranquila em relação a isso. Eu sempre fui mais bicho do mato. Em alguns momentos, eu me indispus com algumas pessoas por esse jeito meu de ser mais fechada. Sempre fui mais light. Uma coisa que eu não suporto na minha vida é arrogância, isso não tem vez comigo”, justifica.
Nos anos 80, o basquete feminino ganhou uma nova dimensão a partir da rivalidade entre Paula e Hortência.
“Essa rivalidade tem dois pesos: um lado bastante positivo em relação ao crescimento da modalidade e de nós duas, individualmente; mas também tem o outro lado, que fez bastante mal para a Seleção durante muito tempo. Ela diz que não, mas eu acho que sim, porque essa rivalidade entre os clubes continuava interferindo no trabalho da Seleção. Ficava uma coisa muito caseira e ninguém chegava e falava: esquece aquilo lá, agora vocês estão na Seleção. A gente tinha que entender que aquela rivalidade era boa, dava público, chamava a mídia, saía nos jornais, mas estava atrapalhando o crescimento. Levamos 15 anos para ganhar a primeira medalha de ouro no Pan. Somos muito diferentes, água e vinho. É importante ter num time pessoas de vários perfis, de várias personalidades, mas demorou para somar”, analisa Paula.
Rivais nos clubes, Paula e Hortência juntas foram responsáveis pelas maiores emoções do basquete brasileiro.
“A Paula foi a pessoa mais importante na minha carreira, pois eu a usava para me incentivar a treinar forte todos os dias por causa da nossa rivalidade. Foi a parceria mais bem-sucedida da minha vida porque, quando usávamos a camisa da Seleção, nos tornávamos uma grande dupla. Nós pensávamos duas, três jogadas à frente das outras jogadoras e isso fez com que os americanos nos elegessem a maior dupla que já viram jogar. Tive muita sorte de ter nascido na mesma geração que a Magic Paula, sinto falta das jogadas e dos passes mágicos dela”, enfatiza a Rainha Hortência.
Mesmo longe das quadras, as duas ainda pensam de forma muito semelhante.
“A gente teve a sorte de estar na mesma geração. Seria muito injusto cada uma ter nascido num período. Ela representou muito para mim. Com essa rivalidade, a gente treinava para os nossos times ganharem um do outro, crescíamos individualmente. Depois, com um tempo, conseguimos unir forças e conquistamos muitos títulos. Hortência foi aquele calo bom. Fez com que eu crescesse e que o basquete feminino alcançasse aquele patamar onde a gente o colocou”, reforça Paula.
Depois do bronze dos Jogos Pan-Americanos de Caracas, em 1983, e da prata em Indianápolis 1987, a geração de Paula e Hortência chegou ao degrau mais alto do pódio no Pan de Havana 1991, em Cuba. Foi o primeiro ouro daquela equipe dirigida pela técnica Maria Helena Cardoso. Finalmente, a melhor armadora do Brasil alcançava um título internacional de peso.
“Embora o Pan não tenha a relevância dos demais títulos –Jogos Olímpicos e Mundial –, ali foi o grande start, a virada de chavinha, até para os clubes do Brasil se reestruturarem e entenderem que eles fazendo um trabalho legal, isso ia refletir na Seleção”, lembra Paula, que teve uma atuação extraordinária na final contra Cuba.
Além da medalha de ouro, dos passes fantásticos e das cestas de três pontos, a competição ficou marcada na memória do público pela atitude de Fidel Castro durante a premiação às atletas, particularmente Paula e Hortência. Fidel chegou a pedir para ver o número de Paula e fez o gesto de que não entregaria a medalha para ela ao ver o 8 na camisa da brasileira, que fizera quatro cestas de três pontos nos últimos minutos.
“Eu não estava nada preocupada com ele, porque foram tantos anos esperando esse momento, que eu falei: ah! Que protocolo! Alguém aqui vai dar a medalha e vai embora. O que esse Barba quer? Eu estava preocupada com a minha máquina fotográfica, que havia esquecido no vestiário, estava procurando alguém para ir lá, pegar a máquina na minha bolsa. Aí, ele vem e faz toda aquela cena, finge que não vai dar a medalha. Quando ele pede para a gente descer do pódio, pergunta: ‘Vocês já jogaram bem assim outras vezes?’ E a gente, humildemente, disse que sim (risos). Aí ele fala: ‘hoje vocês estavam com uma mira laser. Vocês acabaram com o meu time’. Depois falaram que ele chamou a gente de bruxas, eu não me lembro de nada disso. Os repórteres depois contaram essa história. Aquele era o meu momento e o Fidel acabou estragando”, protesta Magic Paula. “Quando voltamos ao Brasil é que percebemos a repercussão que esse negócio teve. Ninguém perguntava da medalha de ouro, era só sobre o Fidel”.
A Seleção Brasileira se classificou para Barcelona 1992 com muita dificuldade.
“Nós nunca tínhamos ido para aos Jogos Olímpicos, parávamos nos Pré-olímpicos. Chegamos aos Jogos e foi um fiasco. De oito equipes, nós ficamos em sétimo. A Vila pega, se você não chega preparado para enfrentar aquilo, a Disneylândia que é, você se perde. É muita distração. Em Vigo, durante o Pré-Olímpico começou um desgaste com o comando da Maria Helena”, revela.
Para comandar a Seleção Brasileira no Campeonato Mundial da Austrália, em 1994, o então presidente da Confederação Brasileira de Basquete, Renato Brito Cunha, escolheu o técnico Miguel Ângelo da Luz, um carioca que nunca tinha trabalhado com uma equipe feminina nem adulta. Paula, assim como as demais jogadoras, foi contrária à escolha.
“A gente não queria aceitar o novo técnico porque achávamos que não estava na hora de fazer experiência, era o último Mundial da Hortência e deveria ter sido o meu último também. Eles vieram com um foco muito diferente do que tínhamos e foi uma preparação incrível, na parte física, técnica, tudo, também na forma de comandar. Era um comando com diálogo, com muito respeito. Eles nos consultavam para tudo e a gente dava palpite nas jogadas. Ele já tinha muita experiência e foi muito importante esse nível de humildade deles. Eu falo sempre que a grande dificuldade das lideranças é assumir suas fragilidades e acho que eles não tiveram medo de assumir suas fragilidades e vieram para uma linha mais da motivação”, elogia Paula.
“Ela foi fundamental para a conquista do título. Era uma líder nata. Tinha muita facilidade para comandar um grupo, as atletas ouviam atentamente o que ela passava dentro e fora da quadra. Paula era o termômetro, sabia identificar onde poderia ter algum tipo de problema. Era a capitã do time: enérgica quando precisava ser, carinhosa quando necessário e respeitosa com todo mundo. Não tive dificuldade para liderá-la! Uma atleta que chega aonde ela chegou é porque gosta muito de treinar. Não tinha meio termo com ela, a entrega dentro da quadra era uma coisa sensacional. Aprendi muito com ela e não tivemos problema nenhum dentro das competições”, retribui o técnico Miguel Ângelo da Luz.
“Nós começamos muito mal a primeira fase do Mundial, na Tasmânia. Passamos no sufoco para a fase seguinte. Foi interessante que, com a sequência de jogos, a gente ia crescendo, melhorando, evoluindo. Quando chegamos à fase seguinte, em Sydney, o time já estava muito bem entrosado. Queríamos chegar entre os quatro e conseguimos ao vencer a Espanha, nosso jogo mais importante. Passamos à frente no último minuto”, narra Paula.
Na avaliação dela, o lado psicológico muito forte fez a diferença naquela equipe.
“Nós sempre tínhamos qualidade de jogo, o que pegava era o mental. Acho que a diferença foi essa. Teve um trabalho com o preparador físico, o Hermes Balbino, para a gente estar completa: no físico, no tático e na mente. Esse trabalho mental, feito nos quatro meses de treinamento, foi fundamental”, detalha. “Eu me lembro que o Hermes sempre falava assim: ‘vamos fazer a história jogo a jogo, não vamos ficar pensando... Vamos ganhar esse, amanhã a gente pensa em ganhar o outro, não ficar pensando amanhã a gente pega os Estados Unidos, depois... Vamos a cada dia’”, emenda
Segundo a armadora, a semifinal contra os Estados Unidos foi o melhor jogo que a Seleção já fez e o mais emocionante da sua carreira. Com o placar de 110 a 107, as brasileiras eliminaram da final o time que era favorito ao título. Até então, Estados Unidos e União Soviética se revezavam como campeões.
“E eu não queria jogar a final contra a Austrália, que era favorita contra a China. Não por estar jogando em casa, mas porque tinha mais time. E o nosso jogo contra a Austrália não batia, nunca conseguíamos desenvolver as nossas jogadas. Já contra a China a gente sempre jogava muito livre e era a forma como gostávamos de jogar. Até isso deu certo. Nós tínhamos perdido da China na fase de classificação e, mesmo assim, eu não queria a Austrália”, pontua.
Ao vencer a China por 96 a 87 na partida decisiva, no Dia dos Namorados de 1994, as meninas eram, finalmente, as melhores do mundo.
“Me belisca, me belisca. Foi o que eu pensei depois conquistar o título. Até chegar à pizzaria, gente ainda estava anestesiada. Campeãs do mundo, quem esperava?”, emociona-se Magic, revelando que a equipe se sentiu meio solitária, uma vez que o foco da imprensa já estava na Copa do Mundo de Futebol, que seria realizada, um mês depois, nos Estados Unidos.
O título mundial do basquete feminino ficou “espremido” entre outros dois eventos marcantes: a morte do tricampeão mundial de Fórmula 1, Ayrton Senna, e a conquista do tetra da Seleção Brasileira de Futebol.
“A gente perdeu a chance de poder curtir mais esse momento e, quem sabe, fortalecer essa questão de uma nova geração, com mais meninas gostando de basquete, sei lá”, lamenta.
Nos Jogos Olímpicos de Atlanta 1996, a equipe brasileira já chegou jogando bem. Hortência, que havia dado à luz seu primeiro filho quatro meses antes, manteve sua performance e o time embalou. Venceu o Canadá, Rússia, Japão, Itália, Cuba e, ao marcar 81 a 60 contra a Ucrânia na semifinal, carimbou o passaporte para a inédita final olímpica. Numa revanche do Mundial, as americanas levaram a melhor, vencendo por 111 a 87 e garantiram o ouro.
“Paula e Hortência eram as jogadoras mais marcadas no mundo, onde elas entravam na quadra tinha uns ‘carrapatos’ atrás delas. Dizem que, na final olímpica, a técnica falou para a jogadora que marcava a Paula descobrir até a pasta de dentes que ela usava”, lembra Miguel Ângelo da Luz, falando sobre a dificuldade que as principais jogadoras do Brasil tiveram durante o jogo.
“Na semifinal, acho que a gente mandou um recado para o nosso cérebro bem equivocado: Já somos prata! Carimbamos o passaporte para jogar a final e comemoramos de um jeito que parecia que a gente já tinha ganhado, que estava suficiente. Faltou alguém chegar lá na Vila e falar: ‘amanhã, começa do zero. Essa euforia toda, esquece’. Tomamos uma enfiada de 24 pontos numa final olímpica. Podia ter sido um jogo mais parecido, mais junto.”, analisa Paula.